quinta-feira, 12 de março de 2009

De cordeira de bloco Carnavalesco a Assistente Social: Uma trajetória.

Por Márcio Viana (Subwoofer)*

Quem vê esse sorriso bonito, logo pensará que este é só um sorriso de uma "beleza negra". Só que por traz dessa formosura há uma história sofrida, de muita luta e conquista. A Assistente Social, Carla Akotirene, nascida no bairro da Liberdade, na Avenida Peixe, filha da sacoleira Célia, já foi vitima de abuso sexual na infância; racismo e preconceito social, como muitas mulheres pretas no Brasil.

Os crimes de violência contra mulher, preconceito e racismo; a desigualdade social, a fome, o desejo de lutar por novos ideais de vida foram uma das motivações que fizeram a ex-cordeira de bloco carnavalesco, Carla Akotirene, sustentar o sonho de se tornar Assistente Social. Quem há conhece sabe da sua espiritualidade, otimismo, força e vontade de ver suas irmãs e irmãos pretas/os num processo de formação profissional, livre do cárcere do Estado e de todo e qualquer tipo de violência que sofre o povo brasileiro. Mulher preta, assim se define assumindo seu orgulho Black após sua passagem pelo Instituto Cultural Steve Biko, onde passou pelo processo de formação educacional e político.

Segundo Carla, é preciso potencializar as ações do movimento negro nas comunidades, escolas e presídios para que a população perceba a trama orquestrada pelo Estado brasileiro que visa manter a exclusão racial, geracional, de gênero, dentre outras opressões proveniente do sistema machista, sexista, e opressor direcionado ao povo Preto. E desta forma incentivar os projetos pessoais e coletivos das/os descendentes de africanas/os para que sejam concretizados, contrário ao extermínio físico, cognitivo e espiritual que engendrou o conflito nas relações raciais no país.

Akotirene, hoje, faz parte do grupo de mulheres conscientes, militante feminista, é conselheira municipal do Conselho da Comunidade Negra do Salvador, coordenadora do Fórum Baiano de Juventude Negra e coordenadora do Centro de Promoção da Igualdade da Bahia, centro, este que abriga o Conselho Estadual da Comunidade Negra e o Conselho em Defesa dos Direito da Mulher. Carla deste modo busca contrariar os dados da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (DEAM), com endereço no final de linha do Engenho Velho de Brotas, que até o mês de fevereiro, do ano corrente, registrou 07 casos de estupro; 28 prisões em fragrante; 84 casos de agressão moral; 433 casos de ameaças; 448 casos de lesão corporal; 1332 ocorrências policiais; 129 inquéritos instaurados e 97 remetidos.

Segundo a Delegada titular da DEAM, Celi Carlos, após a criação da Lei Nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, Lei Maria da Penha, houve um aumento de denuncia de violência domestica e familiar contra a mulher. Cada mulher é ouvida com a presença de testemunha e o agressor, após o inquérito instaurado, fica a disposição da justiça.

No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, dia 8 de março, a delegacia funciona normalmente com palestras educativas e de orientação. Já no domingo (8) a DEAM participa do conjunto de atividades de lazer, arte e entretenimento, no Dique do Tororó, Salvador. Os servidores da delegacia estarão distribuindo panfletos educativos e passando orientações sobre os serviços oferecidos ao público, principalmente o Disque Denúncia.

Sendo assim, através da coragem de lutar por respeito, valor social e moral, melhores condições de trabalho, uma vida sem violência e denunciando seus agressores, luta diária, que o destino de mulheres guerreira, como Carla, Celi, Ana, Paula, Dandara, Luiza, tem alcançado os resultados desejados. Preservando a perspectiva de mudança.

*Neto de Marieta e filho de Cleonice, mulheres pretas; Radialista, Estudante de Letras, Educador.
Contato - negroneves@gmail.com
Todos os sabados na Rádio Educadora FM 107.5, Programa "No Balanço do Reggae", das 16 às 17h. http://www.irdeb.ba.gov.br
Visite meu blog:
http://avozdaraca.blogspot.com

Notícia: http://www.irohin.org.br/onl/new.php?sec=news&id=4237

Nenhum comentário: