quarta-feira, 18 de junho de 2008

Natalino desabafou

Em depoimento ao jornal Folha de S. Paulo e à rádio Band News, AntonioNatalino Dantas, 69 anos, coordenador do colegiado da Faculdade deMedicina (Famed), da Universidade Federal da Bahia (UFBA), fazafirmações onde declara seu pensamento político-racial ao tentarjustificar o baixo rendimento no Exame Nacional de Desempenho dosEstudantes (Enade), por parte dos alunos do curso da Medicina da UFBA.Dantas disse que "o baiano toca berimbau porque só tem uma corda". "Setivesse mais cordas, não conseguiria". Na visão dele, o baixoQuociente de Inteligência (QI) dos baianos é algo hereditário ecultural.Para Natalino, a raça influência no processo de formação do indivíduo:educação formal e sócio-cultural, como pensava o médico italianoCesare Lombroso e o seu discípulo brasileiro, Nina Rodrigues.
Outro pensamento de Dantas é que os valores cuturais do povo baiano são algumas das causas da instituição ter obtido nota dois no Enade. Não se encaixa neste pensamento uma possível ação, dos alunos do cursomedicina, de boicotar o exame. A partir dessas afirmações, também, pode-se traçar o perfil de um homem que pode ter ocultado, publicamente, seus pensamentos racistas e preconceituosos por um longo período de sua vida. O que deixa entender que, da parte dele, declarações deste tipo supostamente podem ter sido proferidas em outros momentos para seus familiares, amigos e colegas. Natalino transmitiu seu pensamento em rede nacional e, com a repercussão do caso, Dantas conseguiu transmitir ao povo brasileiro um possível perfil institucional, já que, na ocasião, ele respondia sobre o caso do baixo rendimento institucional. Ou seja, esse é mais um caso de racismo institucional, semelhante aos que tanto se fala nos movimentos sociais que militam contra esse comportamento e traçam operfil dessas instituições a partir de atitudes objetivas ou subjetivas como esta. E que pode está coberto por um mais um argumento forjado.
O atual governador da Bahia, Jaques Wagner, disse em entrevista que isto foi um"surto de imbecilidade". É, mas entendam que aos 69 anos, Antonio Natalino se desabafou. Possivelmente Natalino precisava deste momento para mostrar seu pensamento ao mundo. E o que garante que estepensamento não faz parte de uma das filosofias da instituição que ele representa? Pois ele é um professor da UFBA, um formador de opiniões, um acadêmico e que, na ocasião em que disse tais coisas do povo bainano, estava representando a instituição, como um gestor do curso de Medicina. E, realmente, Natalino deve ser leitor de Lombroso e Nina Rodrigues. Seus argumentos rconcordam com alguns pensamentos nina-rodrigueanos. Entendam que isto foi mais uma demostração de seu grau elevado de instrução. Porque o fato ocorreu próximo ao final de sua carreira de mestre, orientador e professor na instituição. O pedido de aposentadoria de Natalino sairá em pouco tempo. Entende! E para que esse grito de Natalino não vá terminar em "pizza", "à la lombrosiana", ou em"jabá" "à la nina-rodrigueano", não interprete como coisa da idade.
Por Márcio Viana, em 05/2008.

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